Tem padre missionário Tem padre vigário Tem padre dançarino Tem padre literário Tem padre no balcão Tem padre maçom Tem padre famoso Tem padre muito pomposo Tem padre pastor Tem padre evangelista Tem padre senhor Tem padre senhorita E o inferno deve estar cheio de padre Brinda lá com o cálice o que erra com a fé Que abusa do povo e invade o coração do simples com o pé E gente que ensina a verdade cadê? Padre, pastor, presbítero cadê? Que ensine a verdade sem pudor Com coragem, mostra verdade, amor
Ao nascer, mordeu o cordão umbilical. Ao invés de chorar, bateu no doutor. Foi crescendo. A mãe não agüentava de vergonha. Ainda criança bebia e usava mais do que maconha. Seu pai se matava de trabalhar. Não havia arroz que desse conta da larica do moleque comilão. Na adolescência destruía corações. Humilhava os poucos amigos, maltratava as suas paixões. Na fase adulta não parava com mulher. Ninguém suportava o veneno do mane O tempo foi passando e ele foi amargurando a estricnina, o próprio fel. Nem um pouco se arrependia e achava sempre boa a perfídia que fazia. Ao morrer não teve ninguém que levasse seu caixão. Os vermes do cemitério se encarregaram da função. A seis palmos, não a sete, foi enterrado. Fazendo menção Belzebu, a tudo que fizera quando encarnado.
Se temos vício por consumo é velha herança Nos matamos cedo em química Sabores desde a infancia Nos maltratamos por impulso de sucesso e liderança Seguimos moldes da sociedade Suicídio, auto-vingança Nunca vemos o outro como a nós, com esperança Nem a mãe natureza como imagem e semelhança Não escolhemos ser tão puros como éramos quando criança
Casas tinham árvores na frente, o jardim agora é garagem. As pernas atrofiam, carros pintados de verde, forjam. A natureza metal, o animal dito racional se aniquila aos poucos. Homeopatia. Tentando ver como seria uma realidade plástica e virtual. Fruto da curiosidade sem fim. As avenidas sem bulevares. As estradas sem os bons ares. E o mato rejeitado insiste pelas rachaduras da cidade.
Estou no meu próprio presente. Estou itinerante, fico constante e plenamente. Fico estonteante, impaciente. Por um instante, penso, sinto. Estou no futuro de alguns. Não muitos, nem importantes. Dos comuns. Aqueles sem nada especial, mas com essência. Com alma, com calma, elegância. Estou no passado de muita gente. Esquecido, parado, inconsciente. Abraço apertado, riso estridente. O sóbrio, o bêbado, o entorpecente.
Fugir da regra mui trivial Nos vemos em produto capital Ensinam assim, já no pré-natal. Nos privam do direito seminal de viver na paz e com moral Escolhendo a pureza do plural Oferecem uma vida fútil, banal Aparentemente bela e real Belo mundo, nosso umbigo e quintal. Nos entupimos de falso ideal Esquecemos do que é imortal Do que é sagrado, sacerdotal E nos conformamos com uma tal niilista prece: bem versus mal
Quem mais poderia ser Que tais linhas há de tecer Em meio ao conturbado dia Que ainda preza pela harmonia Que encanta a todos com alegria Tenta de tudo rir e torcer Que melhor possa ser O próximo amanhecer Sem métrica Sem estética Só com a boa intenção Uma rima, um sorriso Um coração Como uma oração Como o saltimbanco e sua canção Como um amador No anseio de ser professor Da arte de articular Prosa para comunicar Nada que o devaneio Que o inútil anseio Podia vir a passar E tempo gastar Sem mais esperar A hora de me despedir Ir para casa e enfim dormir! Sonhar, sonhar, sonhar Ao amanhecer acordar Tudo recomeçar Criar, criar e recriar A mesma rotina de enrolar Até a hora chegar De novamente me despedir Ira para casa e enfim dormir
O imenso pé de Umbu nos mostra. Ensina como ser e agir. Ter perseverança. Mesmo com a ação do tempo, do desastre, do mal ou da vingança. Mesmo preto de queimada, alagado, cortado assim. Renasce fé, amor, esperança. Sem mesmo mostrar um mero verde, sem ter chance enfim, viravolta, criança. Frondosa lição de vida, superação, pujança.
Hoje é calmo o que ontem não era Só na esperança de um sorriso teu Natureza reflete os sonhos e dançava ao léu Já não me assusta, a luz já se fez lá no sol Alcança criança dentro de mim Enfim brinca brincando assim Esperando momento e crê que chegou Mergulhar de cabeça nesse grande amor
Assim, quando morreres, desejo que veja saboreado o aroma doce azulado da mais bela sensação. Desejo ainda assim, que tateei o doce engraçado, que de mais sagrado tino, se exalou dum fino quadro. A moça do bom costume, que ouça o colorido perfume do mais veludo prato de pão. Teatro, fruto da imaginação. Se perceberes tal moção, que o olfato veja macio. Vem e brota da escuridão Uma sinfonia de cereja anil. E que no derradeiro instante uma trombeta verde gigante te acolha pelos sentidos. Mais sincero que tenha vivido e que no céu infinito adentre tal qual acredite. Seja triunfante, constante, sem fim. Seu derradeiro e belo instante. Amém.
Sinto-me bem realizado nos outros o que tentei realizar em mim e fracassei. O que tentei realizar pelos meus, realizo pelos outros com êxito. E isso me deixa feliz, tranquilo. Parece que cumpri meu dever paliativo de ajudar. Atenuo a minha pena. Minimizo meus erros. Pago minhas culpas. Ver o outro crescer é a melhor forma de ver o que perdi não me ouvindo ou que minha família perdeu não me ouvindo. Se disse algo útil... Fazer por alguém equilibra o não fiz por mim. E assim me aprendo por conseqüência. Me completo, completando o mundo.